terça-feira, 5 de julho de 2011

Quatro de Espadas

A persistência da memória, 1931 - Salvador Dalí
Exílio.
Acredito que a minha geração não sabe muito bem o que é isso. O que é você ter de sair do seu ambiente familiar e ficar em um espaço ‘neutro’, esperando? Esperando o tempo passar, esperando as idéias e ideais se transformarem. Enfim, apenas esperando. Pensando em suas ações e tomando fôlego para um novo momento. Imaginando como será a volta, que não tem data certa e também não saber se ela vai realmente acontecer.

No mundo prático não vivemos isso, não sabemos o que foi ou o que é isso. Mas no campo emocional, não tenho dúvidas de que a minha geração sabe bem como é ser obrigado, por um movimento interno ou não, a sair de cena.

Sair do mundo, sair da rotina e experimentar a reflexão. Testar o sono da fuga, testar o imã da cama, a preguiça de caminhar. É uma forma de exílio, um exílio altamente criativo que nos coloca, sem querer, para avaliar nossa vida. É um processo natural, buscamos esse espaço silencioso e tranqüilo depois da turbulência.

Isso aconteceu com Orestes, nosso herói mitológico que precisou do tempo sereno e tranqüilo para pensar em como deveria agir sobre a traição do pai e o assassinato dele pela mãe. História trágica, pesada, mito greco-romano representado pela carta Quatro de Espadas no baralho de Tarô Mitológico. E temos o que aprender com Orestes. Como reagir? Assim, o exílio se faz necessário.

O caos da vida nos faz emendar uma ação na outra e às vezes não percebemos como esse momento de pausa é fundamental, até que somos obrigados a viver isso: o corpo pára e a nossa resistência abaixa e temos uma amigdalite que não nos deixa falar, uma virose que nos segura em casa, uma pedra no rim que nos amedronta tamanha dor; ou o inevitável acontece, a corda se rompe e o fim chega. Aí, precisamos parar para pensar, não tem jeito. Precisamos respirar um ar limpo e puro, sem inalar nenhuma dor. Precisamos segurar o grito da descida da montanha russa e entender se queremos descer mesmo ou não.

O inevitável já aconteceu. A dor e o desespero para acabar com ela já passaram. Agora é decidir se emendamos logo outra atividade em nossas vidas ou se paramos para refletir. Raramente enxergamos a possibilidade do crescimento nesse momento de exílio, mas Orestes enxergou isso. E ele não sente ansiedade ou pressão em seus pensamentos. Ele sente que é um momento de reflexão, de recuperar energias para o próximo passo. É um momento solitário, sem tarefas, sem perder tempo com atividades que não irão trazer benefícios. É hora de descansar e se refazer. E essa paz inspira idéias e novos movimentos. Aproveite!

Um dia de cada vez.
Tudo tem seu tempo.
Entenda e pratique isso em seu exílio e boa sorte. Mais uma vez, só você tem a ganhar com esse momento.

COTA ZERO
Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?
Carlos Drummond de Andrade – Sentimento do Mundo

terça-feira, 31 de maio de 2011

Dois de Espadas

M.C. Escher - Circle Limit 4
E se correr o bicho pega, e se ficar o bicho come...
Parece bobo, mas é isso mesmo. Uma sensação de não querer pensar nisso agora. Posso tirar férias? Vamos fugir? Aperta pause! Vamos mudar de assunto?

E fica que nem o pica-pau. Martelando constantemente na nossa cabeça, quanto mais fugimos, mais aparece no nosso sonho, ou alguém pergunta, ou sei lá. Que droga, que insuportável! Até aqui nesse texto vou ter de pensar nisso?
Vai.
Vou.

Com nosso herói Orestes foi assim. E os mitos estão aí para nos ajudar a explicar nossas
sensações, sentimentos, entender quem somos e como lidamos com as coisas. Todas as histórias mitológicas se encontram, os personagens se cruzam e por isso é difícil manter a linearidade.

A história, já adianto, é pesada, densa.
Agamenon e Clitemnestra eram rei e rainha de Argos. Foi um casamento arranjado, Agamenon matou o primeiro amor da mulher para conseguir casar-se com ela. Além disso, existia em sua família uma maldição: todos teriam muita dificuldade em usar a mente, em ser racionais, em saber negociar e aprender coisas novas. Diante de todo esse cenário, o casamento dos dois era muito sofrido e vingativo. Eles tiveram três filhos juntos: Electra, Ifigênia e Orestes.

Agamenon era irmão de Menelau (marido de Helena) e participou da guerra de Tróia. Ele deveria guiar o exército grego pelo mar e, ao longo do percurso, zombou da deusa Ártemis. Ela os castigou mandando uma tempestade que segundo o oráculo só se extinguiria caso Agamenon pedisse perdão à deusa, sacrificando uma de suas filhas. Isso, para ele, era necessário, pois só assim conseguiriam chegar a Tróia e lutar.

O rei de Argos manda uma carta para sua mulher informando que Ifigênia deveria ser enviada para o local do acampamento pois se casaria. Tudo foi arranjado para que Clitemnestra assim acreditasse, no entanto, Ifigênia foi sacrificada. Para Agamenon tudo dera certo, ele conseguiu o perdão de Ártemis e continuou viagem. Lutou na guerra e ajudou a destruir Tróia.

Clitemnestra ficou arrasada e sozinha no reino, uniu-se com Egisto que virou seu amante, e juntos planejaram o fim de Agamenon. Para que nada saísse errado, Orestes foi enviado a outra cidade, assim ele não tentaria impedi-la.

A carta Dois de Espadas no baralho de tarô mitológico é ilustrada com Orestes ao centro, com os olhos fechados e as mãos cobrindo os ouvidos. De um lado está sua mãe, Clitemnestra, com uma espada apontada na direção oposta; e do outro lado, Agamenon, seu pai, em uma posição semelhante à da mãe, de forma que as espadas se cruzam em sua frente.

Esse momento de pausa mostra como Orestes está parado, colado ao chão.
Ao mesmo tempo em que ele não se envolve e não é infeliz, ele não toma partido e não faz sua escolha e, portanto, também não é feliz.

Quando algo grandioso e novo cruza nosso caminho, tendemos a enxergar apenas os extremos. E, dessa forma, congelamos, ficamos parados sem tomar atitude nenhuma, ficamos desconfortáveis com o som do pica-pau na nossa cabeça, mas fingimos uma calma que não faz parte da gente. O objeto, o ponto de vista, o caminho, precisa ser escolhido, precisamos saber abrir mão, sofrer ou agarrar e assumir a responsabilidade. Sabemos disso, mas adiamos ao máximo fingindo essa tranqüilidade do não envolvimento.

Mas chega uma hora em que não dá mais para empurrar com a barriga. Uma hora a conta chega, diz um amigo meu. E aí não vale nos culparmos pela nossa não-escolha ou falta de envolvimento.

Assuma! Espante o pica-pau da sua cabeça! Vai atrapalhar outra pessoa, porque eu vou assumir quem eu sou e escolher meu partido. (Hahahha, até parece que é fácil!!!! Mas se te conforta, até os gregos já pensaram nisso...)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Os Enamorados

Illustration by Carl Jung in "The Red Book"
Você já se sentiu em uma encruzilhada?
Em um momento de uma escolha muito difícil?
A vida adulta acaba nos proporcionando estas experiências, ter de escolher entre alguns caminhos. Conforme a gente vai amadurecendo a decisão fica mais rápida, mais óbvia. Mas mesmo assim, ainda vivemos situações em que a escolha é muito difícil.

Normalmente porque as opções que temos nos trazem diversas dúvidas, nos deixam muito inseguros. Como é difícil não saber o que vai acontecer! E se eu me arrepender dessa escolha mais pra frente? Infelizmente não temos como saber... E assim ficamos parados, no meio da encruzilhada, analisando e re-analisando prós e contras de cada movimento.

“Em trabalhos práticos de física, qualquer aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese científica. Mas o homem, por ter apenas uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese por meio de experimentos, por isso não saberá nunca se errou ou se acertou ao obedecer ao seu sentimento.” (A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera)

E para mim, o mais difícil é isso: obedecer nosso sentimento. Porque quando temos opções e ficamos realmente na dúvida, todas as nossas escolhas envolvem nossos sentimentos: qual caminho me fará mais feliz? No fundo é isso que pensamos.

A carta Os Enamorados, no baralho do tarô mitológico, conta a história do Julgamento de Páris e retrata uma escolha extremamente complicada que esse jovem príncipe teve de fazer. Tudo começou com uma maçã banhada a ouro que apareceu em uma festa de casamento no Olimpo. Era a celebração da união entre Peleu e Tétis em que Éris, deusa da discórdia, furiosa por não ter sido convidada, lançou para Zeus a jóia gravada com os seguintes dizeres: “para a deusa mais bela”. Imediatamente, Hera (deusa da família e da união), Atena (deusa da justiça) e Afrodite (deusa da beleza e do amor), se prontificaram em receber o presente. Zeus entendeu, então, o quão delicado seria escolher a deusa mais bela: ao escolher uma, estaria ‘abandonando’ as outras duas.

Estrategicamente, Zeus convocou Hermes, mensageiro dos deuses, para ir até o mundo mortal e delegar essa tarefa para alguém. As 3 deusas o acompanharam e Hermes encontrou com Páris, príncipe de Tróia, que foi o escolhido para eleger a dona do pomo dourado. As deusas se apresentaram, cada uma oferecendo uma recompensa pela sua escolha: Hera lhe concederia a paz e a união dos povos em seu reinado, Atena lhe daria o pensamento estratégico em guerras e conflitos e Afrodite ofereceria-lhe o amor da mais bela jovem, da moça que ele quisesse.

Que dúvida! Que grande dúvida!
Estava claro para Páris a grande responsabilidade que seria escolher uma das 3. Mas era sua tarefa, ele deveria fazer essa escolha. E não é uma escolha prática, não estamos falando qual das 3 vai oferecer mais súditos, mais riquezas... não! A escolha é subjetiva, é o coração quem manda: qual das 3 é a mais bela?

Essa história tem um grande desdobramento e lá na frente vai ser responsável pela guerra de Tróia. Aqui, vamos nos concentrar nessa primeira parte do mito que é conhecido como O Julgamento de Páris. Páris escolheu Afrodite como a deusa merecedora do pomo de ouro, não era por menos, ela é a deusa da beleza. Por mais difícil e comprometedora que fosse essa escolha (Páris comprou uma briga feia com Hera e Atena), foi isso que seu coração, sua intuição pediu para ser feito e era exatamente esse caminho que seria seguido, de um jeito ou de outro.

Essa escolha representa o momento em que nos diferenciamos como indivíduo, o momento em que nos tornamos únicos e nos responsabilizamos pelas nossas escolhas. Aqui, Páris ouve seu coração e se mostra adulto, maduro e as conseqüências são apenas dele. Sentiu a responsabilidade dessa etapa?

A carta Os Enamorados nos traz um momento de extrema felicidade, alegria, amor e muita realização, pois é uma escolha que fazemos com o coração. Mas essa carta também traz consigo a grande responsabilidade dessa escolha, o alto preço que pagamos (internamente) pelo nosso amadurecimento e pela nossa conquista em bancar isso tudo sozinhos.

Muitas dúvidas e inseguranças ainda estão por vir, já sabemos disso no minuto da escolha. Mas o aprendizado que ganhamos nesse processo é só nosso e o conforto emocional que temos também. Ninguém pode tirar isso de nós e ninguém pode nos ensinar isso. A satisfação desse aprendizado é enorme, única e só vamos saber disso se seguirmos nosso coração e bancarmos nossa escolha.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Cavaleiro de Paus


Golden Tarot of Klimt - Knight of Wands

Uma vez, li sobre uma classificação que dividia as pessoas em iniciativas, acabativas e empreendedoras. As iniciativas são pessoas que têm muito potencial para começar um novo ideal; as acabativas conseguem dar continuidade a algum projeto; e as empreendedoras têm uma visão mais ampla do todo e, mesmo não participando de toda a execução, conseguem articular do desenvolvimento à conclusão.

Isso me lembrou um herói mitológico chamado Belerofonte.
Belerofonte chegou a Tirinto e foi muito bem recebido pelo rei. Como ele era muito sedutor, a rainha Antéia apaixonou-se por ele, e para evitar qualquer fatalidade, Belerofonte foi enviado para uma missão: a destruição de Quimera, monstro de aparência horrenda que soltava fogo pela boca.

No caminho de sua missão, Belerofonte foi alertado por um vidente que teria sucesso se domasse o cavalo alado Pégaso. Com a ajuda de Atena e um freio de ouro, Belerofonte conseguiu capturar o cavalo e, sobrevoando o local onde Quimera estava, lançou uma flecha com ponta de chumbo. Quimera, furiosa, urrou e jorrou seu fogo que derreteu o chumbo e acabou por matá-la.

Belerofonte, nosso herói, ficou tão satisfeito com sua conquista que ousou realizar qualquer coisa, inclusive o impossível: voou com Pégaso até o Olimpo. Zeus, chocado com tamanha audácia, acertou um raio em Pégaso que não resistiu e morreu.

Essa história é representada pelo Cavaleiro de Paus no baralho de tarô mitológico. E quando ela aparece em um jogo, mostra um momento de muitas novidades e desafios que estão por vir e que não podem mais ser evitados. O Cavaleiro de Paus mostra também a coragem e a audácia de acreditar que tudo é possível, que mesmo o monstro mais feroz pode ser enfrentado e a aventura mais absurda pode ser realizada. Ele tem um grande potencial de ser ouvido, consegue movimentar pessoas pelo seu ideal, consegue convencer os outros e a si mesmo que aquela crença é verdadeira.

Belerofonte representa o poder da iniciativa, de difundir uma idéia, uma ação, um objetivo e conseguir se convencer que só aquilo pode ser feito. Mas ele acaba cego pelo seu próprio ego, e não percebe que, por sorte, com a ajuda de Atena consegue domar Pégaso e matar Quimera. Falta em nosso herói o poder do empreendedor, de analisar o todo complexo e ver quais passos ele pode dar e em que momento ele pode fazer isso.

Ao mesmo tempo em que o Cavaleiro de Paus nos dá o poder da novidade, da energia para a aventura, nos traz também a desconfiança da incerteza, de algo não muito maduro. Belerofonte está muito mais perto de sair do Pégaso e começar uma nova aventura com outros tantos riscos do que ‘enterrar’ seu cavalo antes de começar tudo de novo. 

Assim, o grande aprendizado dessa carta é nos posicionarmos como um empreendedor, que enxerga o todo, que está pronto e motivado para a batalha, que tem estratégia e não conta apenas com a sorte. Nossa energia da iniciativa deve se manter de forma coerente para não nos perdermos: ser o empreendedor que consegue entender isso, e não o Belerofonte que é apenas iniciativo.

terça-feira, 22 de março de 2011

Sete de Paus

Jasão, o velocino e o dragão | Museo del Bargello - Florença ITA
Encarar uma conquista quando a gente vira adulto é muito diferente de encarar a conquista na infância. Antigamente, ganhar a medalha no campeonato era tudo o que a gente queria, hoje, sair do trabalho e ir praticar um esporte já é a conquista.

O sabor da luta é diferente: tomar uma decisão, fazer uma escolha, praticar alguma coisa é uma batalha que travamos com nós mesmos. Nos deixa angustiados, nos tira o sono, nos aflige e quando finalmente decidimos, quando finalmente fazemos nossa escolha, não é raro aparecer alguma coisa para nos deixar inseguros.

Após a morte de Esão, Jasão – seu filho - foi criado e treinado por Quíron. Assim que se tornou maduro o suficiente, Jasão foi até seu tio Péleas reivindicar o trono de Iolco. Péleas concordou contanto que Jasão o trouxesse o velocino de ouro, uma pele de cordeiro muito especial, banhada a ouro.

A história é longa, Jasão recrutou amigos (como Aquiles e Orfeu), construiu uma nau (barco) e foi uma aventura chegar até Colquida, várias coisas aconteceram, como o encontro com Fneu, que os ensinou a passar pelas pedras amaldiçoadas na entrada da cidade.

Lá chegando, para conseguir o velocino, Jasão ainda teve que cumprir algumas tarefas, como colocar o arado em bois ferozes que soltavam fogo pelas narinas, enterrar um dente de dragão e lutar contra o dragão que protegia a pele.

A passagem aqui retrata bem o momento em que decidimos alguma coisa – reivindicar o trono – e a partir disso, quanta coisa deverá ser feita para que essa escolha seja cumprida. Quão grande será o movimento para que a gente consiga manter a intenção original?

A parte complicada é ter energia, porque é muito fácil desistir quando o dragão aparece. É fácil fazer meia volta com o carro e ir para casa, é fácil responsabilizar alguém ou alguma coisa pela nossa falta ou falha. O difícil é depois de um dia de trabalho, continuar carregando a espada pesada e matar o dragão.

A carta Sete de Paus aparece no jogo com uma pergunta: o quanto você realmente quer isso? É um momento que aparece para testar nossa vontade: é isso mesmo que quero? E se for isso mesmo, não vamos desistir da idéia só porque um dragão apareceu. Temos de ter energia para conseguir matá-lo. E essa energia vem com o aprendizado que tivemos ao enfrentar todas as nossas dúvidas, angústias e aflições e fazer nossa escolha. Por isso, o dragão pode aparecer, grande e feroz, mas junto com ele virão a coragem e a segurança necessárias para enfrentá-lo e mantermos nossa escolha.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Carro

O mal deste século é a ansiedade. Cada um interpreta de um jeito, mas todo mundo sente que as coisas são para ontem e que o momento de viver cada demanda interna é agora.  Se não realizarmos agora nossa demanda, nem sabemos como lidar com a frustração. Às vezes não conseguimos nem entender qual é a demanda, pois a ansiedade nos atropela!

Para retratar essa passagem, vou contar uma história.

Hera estava cansada das traições de Zeus e resolveu ter um filho por produção independente, tomando uma poção. Assim, Hera engravida sozinha e passa a gestação toda pensando na vingança que está fazendo ao amado e finalmente dá à luz Ares, deus da guerra.

Ninguém disse que ia ser fácil sair do castelo encantado, não é mesmo? Lá, dentro do castelo, estamos protegidos, temos uma ponte levadiça que não deixa os inimigos entrarem, além das paredes serem feitas de pedras. Também temos um rei e uma rainha que nos atendem em todos os nossos desejos, às vezes a gente nem precisa ter o trabalho de pensar o que queremos, a solução já está ali ao nosso alcance: o desejo é realizado antes mesmo de ser um desejo.

No caso de Ares, o castelo descrito acima não existiu. Ele ficou 9 meses preso em um castelo raivoso, cheio de ódio e vingança. E quando finalmente nasceu, por ser extremamente agressivo - talvez estivesse apenas tentando se defender de um lugar desconhecido - ficou um tempo aprisionado em um jarro de barro.

Ares carrega em si a iniciativa e o prazer da briga, da batalha, da discussão, da competição. Sua energia e sua força lhe proporcionam uma criatividade enorme, pois ele está sempre disposto a querer mais. Ele tem vontade, uma vontade impulsiva de sair fazendo, sempre.

Na carta O Carro do baralho de tarô mitológico, temos Ares em cima de uma biga, conduzindo dois cavalos sendo que cada um está para um lado diferente. A imagem retrata bem a sensação descrita em todo esse cenário: um carro potente, um condutor sobre ele, 2 animais fortes e cada um indo em uma direção. O que vai acontecer? Para que lado vou primeiro?

Não é força que devemos fazer para controlar esses cavalos, é condução, jeito, atitude... Não é precipitação nem arrogância que precisamos. É paciência, tranqüilidade, criatividade e iniciativa de fazer os cavalos seguirem para o mesmo lado.

A ansiedade nos faz querer realizar nosso desejo imediatamente, nos faz querer guiar esse carro a todo custo, independentemente da direção dos cavalos. Mas a probabilidade da gente cair é grande então, se usarmos as potencialidades que desenvolvemos nesses momentos, como a energia que dispomos e a criatividade, conseguimos sim organizar os cavalos e seguir em paz. Basta acreditar, olhar O carro, respirar fundo e seguir. Às vezes, adiar um prazer imediato, por mais difícil que seja, nos é imensamente recompensador. Conseguimos adiar?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pajem de Ouros

Page of Pentacles - The Housewives Tarot
Quantas vezes temos a oportunidade de enxergar um presente que cai no nosso colo? Com Triptolemo (nomes gregos...) foi assim, ele ganhou um presente divino e ainda bem que conseguiu perceber!

Ele estava trabalhando no campo com sua família, quando viu uma fenda se abrir no meio do chão e uma carruagem com um casal entrar rumo às profundezas da terra. Dias depois, por relatar esse acontecimento para uma mulher, ele ganhou um presente.

A mulher era Deméter (Ceres), deusa da natureza, em busca de sua filha Perséfone (Cora) que fora raptada. Deméter não fazia idéia de onde ela poderia estar e já havia rodado o mundo à procura de notícias sobre a filha. Triptolemo foi o único a reconhecer Deméter e relatou seu testemunho sobre o rapto de Perséfone pelo Hades, senhor do Mundo dos Mortos.

Por esse feito Triptolemo foi recompensado: Deméter agradecida ensinou-lhe sobre as diferenças nos ciclos da natureza e também lhe deu o primeiro grão de trigo, ensinando-lhe a cuidar do solo, plantar e colher. Além disso, ele também aprendeu a arar a terra com o auxilio de bois e ganhou uma carruagem puxada por dragões, que andava tanto em solo quanto no ar, recebendo a missão de difundir entre os homens a arte da agricultura.

No baralho de tarô essa carta é o Pajem de Ouros. Uma passagem que retrata um presente que ganhamos por uma ação feita meio que sem querer, inconsciente. O presente ganhado por Triptolemo é muito claro e óbvio, ele ganha o conhecimento dos ciclos da natureza e um grão de trigo. Na nossa vida cotidiana, esses presentes às vezes não são muito claros...

Essa chateação da ansiedade que impera em nossa rotina e nos faz ficar inseguros e inconformados com as coisas em volta da gente nos cega para nossos presentes. Mas eles estão aí, bem mais perto do que imaginamos, basta sentir. Sentir que somos únicos, sentir que somos amados e desse nosso diferencial perceber a energia necessária para cuidar do que é nosso.

É chegado o momento de nos atentarmos ao presente que ganhamos, nos reservando tempo e até nos preservando um pouco. Pode ser um pensamento ou algo mais concreto como uma diversão ou um passatempo, que se colocarmos um pouco de energia pode virar uma fonte de renda, por exemplo. Não é tão fácil de enxergar, mas são oportunidades e presentes que ganhamos das nossas próprias escolhas.

O Pajem de Ouros nos traz a missão de nos dedicarmos às nossas sementes, independentemente de onde elas tenham vindo. É isso: ele nos mostra a capacidade que temos de dedicação e cuidado para os frutos que devemos cultivar e, para isso, basta enxergar nosso presente.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Dois de Copas

Le ravissemente Psyché 1889- William Adolphe Bouguereau
Psiquê era uma mortal lindíssima, todos se encantavam com sua beleza. E por ser Piquê tão encantadora, a imagem de Afrodite começa a ficar esquecida, as adorações à deusa da beleza ficam mais espaçadas e isso a incomoda profundamente.

Afrodite então, elabora uma forma de tirar Psiquê de sua vida e cria uma situação para que o pai de Psiquê consulte o oráculo com a intenção de saber do futuro de sua mais bela filha. O oráculo, manipulado por Afrodite, prevê que Psiquê deveria ser amarrada no alto de uma montanha pois seria devorada por um monstro.

O pai de Psiquê, angustiado com a notícia, não consegue compartilhar a real história com sua família. Ele conta que Psiquê irá se casar: precisa estar vestida de noiva, com toda pompa, porém, amarrada no alto da montanha. E assim, cheia de dúvidas, Psiquê vai para seu lugar com todo ornamento de uma belíssima noiva.

Enquanto isso, Afrodite convence seu filho Eros – Cupido – a matar sua rival em beleza. Para esse assassinato, Eros deveria usar sua flecha, que enlouquece as pessoas com a paixão (em grego pathos: paixão, passividade, sofrimento, doença...).

No entanto, ao chegar ao local indicado, Eros  encanta-se por Psiquê. E ela, acreditando que seria o dia de seu casamento, entrega-se para o ‘monstro’ (que de monstro não tinha nada!).

Essa passagem retrata a carta Dois de Copas no baralho de tarô. É o momento do encontro inesperado, da alegria de alguma coisa que ainda não é muito concreta mas é totalmente sentida emocionalmente por todas as partes do nosso corpo. Um sorriso ingênuo que nos acolhe, o calor reconfortante de um abraço gostoso e inusitado, um gesto sem intenção que nos contamina de alegria. É a celebração de um encontro, que não temos ideia de onde vai parar, mas sem dúvida, é muito feliz. É sentir a confiança e o acolhimento, é dividir emoções e pensamentos, é compartilhar o amor e a amizade e sentir a reciprocidade de onde menos esperamos.

Aqui não temos medo, o desconhecido fica minúsculo. O prazer do encontro é tão grande que todo o resto fica tão pequeno... só é possível sorrir e nos render a felicidade. Que sentimento bom! Vamos nos permitir sentir isso mais vezes! Um brinde a alegria das pequenas coisas que nos pegam de surpresa!