segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O Carro

O mal deste século é a ansiedade. Cada um interpreta de um jeito, mas todo mundo sente que as coisas são para ontem e que o momento de viver cada demanda interna é agora.  Se não realizarmos agora nossa demanda, nem sabemos como lidar com a frustração. Às vezes não conseguimos nem entender qual é a demanda, pois a ansiedade nos atropela!

Para retratar essa passagem, vou contar uma história.

Hera estava cansada das traições de Zeus e resolveu ter um filho por produção independente, tomando uma poção. Assim, Hera engravida sozinha e passa a gestação toda pensando na vingança que está fazendo ao amado e finalmente dá à luz Ares, deus da guerra.

Ninguém disse que ia ser fácil sair do castelo encantado, não é mesmo? Lá, dentro do castelo, estamos protegidos, temos uma ponte levadiça que não deixa os inimigos entrarem, além das paredes serem feitas de pedras. Também temos um rei e uma rainha que nos atendem em todos os nossos desejos, às vezes a gente nem precisa ter o trabalho de pensar o que queremos, a solução já está ali ao nosso alcance: o desejo é realizado antes mesmo de ser um desejo.

No caso de Ares, o castelo descrito acima não existiu. Ele ficou 9 meses preso em um castelo raivoso, cheio de ódio e vingança. E quando finalmente nasceu, por ser extremamente agressivo - talvez estivesse apenas tentando se defender de um lugar desconhecido - ficou um tempo aprisionado em um jarro de barro.

Ares carrega em si a iniciativa e o prazer da briga, da batalha, da discussão, da competição. Sua energia e sua força lhe proporcionam uma criatividade enorme, pois ele está sempre disposto a querer mais. Ele tem vontade, uma vontade impulsiva de sair fazendo, sempre.

Na carta O Carro do baralho de tarô mitológico, temos Ares em cima de uma biga, conduzindo dois cavalos sendo que cada um está para um lado diferente. A imagem retrata bem a sensação descrita em todo esse cenário: um carro potente, um condutor sobre ele, 2 animais fortes e cada um indo em uma direção. O que vai acontecer? Para que lado vou primeiro?

Não é força que devemos fazer para controlar esses cavalos, é condução, jeito, atitude... Não é precipitação nem arrogância que precisamos. É paciência, tranqüilidade, criatividade e iniciativa de fazer os cavalos seguirem para o mesmo lado.

A ansiedade nos faz querer realizar nosso desejo imediatamente, nos faz querer guiar esse carro a todo custo, independentemente da direção dos cavalos. Mas a probabilidade da gente cair é grande então, se usarmos as potencialidades que desenvolvemos nesses momentos, como a energia que dispomos e a criatividade, conseguimos sim organizar os cavalos e seguir em paz. Basta acreditar, olhar O carro, respirar fundo e seguir. Às vezes, adiar um prazer imediato, por mais difícil que seja, nos é imensamente recompensador. Conseguimos adiar?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pajem de Ouros

Page of Pentacles - The Housewives Tarot
Quantas vezes temos a oportunidade de enxergar um presente que cai no nosso colo? Com Triptolemo (nomes gregos...) foi assim, ele ganhou um presente divino e ainda bem que conseguiu perceber!

Ele estava trabalhando no campo com sua família, quando viu uma fenda se abrir no meio do chão e uma carruagem com um casal entrar rumo às profundezas da terra. Dias depois, por relatar esse acontecimento para uma mulher, ele ganhou um presente.

A mulher era Deméter (Ceres), deusa da natureza, em busca de sua filha Perséfone (Cora) que fora raptada. Deméter não fazia idéia de onde ela poderia estar e já havia rodado o mundo à procura de notícias sobre a filha. Triptolemo foi o único a reconhecer Deméter e relatou seu testemunho sobre o rapto de Perséfone pelo Hades, senhor do Mundo dos Mortos.

Por esse feito Triptolemo foi recompensado: Deméter agradecida ensinou-lhe sobre as diferenças nos ciclos da natureza e também lhe deu o primeiro grão de trigo, ensinando-lhe a cuidar do solo, plantar e colher. Além disso, ele também aprendeu a arar a terra com o auxilio de bois e ganhou uma carruagem puxada por dragões, que andava tanto em solo quanto no ar, recebendo a missão de difundir entre os homens a arte da agricultura.

No baralho de tarô essa carta é o Pajem de Ouros. Uma passagem que retrata um presente que ganhamos por uma ação feita meio que sem querer, inconsciente. O presente ganhado por Triptolemo é muito claro e óbvio, ele ganha o conhecimento dos ciclos da natureza e um grão de trigo. Na nossa vida cotidiana, esses presentes às vezes não são muito claros...

Essa chateação da ansiedade que impera em nossa rotina e nos faz ficar inseguros e inconformados com as coisas em volta da gente nos cega para nossos presentes. Mas eles estão aí, bem mais perto do que imaginamos, basta sentir. Sentir que somos únicos, sentir que somos amados e desse nosso diferencial perceber a energia necessária para cuidar do que é nosso.

É chegado o momento de nos atentarmos ao presente que ganhamos, nos reservando tempo e até nos preservando um pouco. Pode ser um pensamento ou algo mais concreto como uma diversão ou um passatempo, que se colocarmos um pouco de energia pode virar uma fonte de renda, por exemplo. Não é tão fácil de enxergar, mas são oportunidades e presentes que ganhamos das nossas próprias escolhas.

O Pajem de Ouros nos traz a missão de nos dedicarmos às nossas sementes, independentemente de onde elas tenham vindo. É isso: ele nos mostra a capacidade que temos de dedicação e cuidado para os frutos que devemos cultivar e, para isso, basta enxergar nosso presente.