terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pajem de Ouros

Page of Pentacles - The Housewives Tarot
Quantas vezes temos a oportunidade de enxergar um presente que cai no nosso colo? Com Triptolemo (nomes gregos...) foi assim, ele ganhou um presente divino e ainda bem que conseguiu perceber!

Ele estava trabalhando no campo com sua família, quando viu uma fenda se abrir no meio do chão e uma carruagem com um casal entrar rumo às profundezas da terra. Dias depois, por relatar esse acontecimento para uma mulher, ele ganhou um presente.

A mulher era Deméter (Ceres), deusa da natureza, em busca de sua filha Perséfone (Cora) que fora raptada. Deméter não fazia idéia de onde ela poderia estar e já havia rodado o mundo à procura de notícias sobre a filha. Triptolemo foi o único a reconhecer Deméter e relatou seu testemunho sobre o rapto de Perséfone pelo Hades, senhor do Mundo dos Mortos.

Por esse feito Triptolemo foi recompensado: Deméter agradecida ensinou-lhe sobre as diferenças nos ciclos da natureza e também lhe deu o primeiro grão de trigo, ensinando-lhe a cuidar do solo, plantar e colher. Além disso, ele também aprendeu a arar a terra com o auxilio de bois e ganhou uma carruagem puxada por dragões, que andava tanto em solo quanto no ar, recebendo a missão de difundir entre os homens a arte da agricultura.

No baralho de tarô essa carta é o Pajem de Ouros. Uma passagem que retrata um presente que ganhamos por uma ação feita meio que sem querer, inconsciente. O presente ganhado por Triptolemo é muito claro e óbvio, ele ganha o conhecimento dos ciclos da natureza e um grão de trigo. Na nossa vida cotidiana, esses presentes às vezes não são muito claros...

Essa chateação da ansiedade que impera em nossa rotina e nos faz ficar inseguros e inconformados com as coisas em volta da gente nos cega para nossos presentes. Mas eles estão aí, bem mais perto do que imaginamos, basta sentir. Sentir que somos únicos, sentir que somos amados e desse nosso diferencial perceber a energia necessária para cuidar do que é nosso.

É chegado o momento de nos atentarmos ao presente que ganhamos, nos reservando tempo e até nos preservando um pouco. Pode ser um pensamento ou algo mais concreto como uma diversão ou um passatempo, que se colocarmos um pouco de energia pode virar uma fonte de renda, por exemplo. Não é tão fácil de enxergar, mas são oportunidades e presentes que ganhamos das nossas próprias escolhas.

O Pajem de Ouros nos traz a missão de nos dedicarmos às nossas sementes, independentemente de onde elas tenham vindo. É isso: ele nos mostra a capacidade que temos de dedicação e cuidado para os frutos que devemos cultivar e, para isso, basta enxergar nosso presente.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Dois de Copas

Le ravissemente Psyché 1889- William Adolphe Bouguereau
Psiquê era uma mortal lindíssima, todos se encantavam com sua beleza. E por ser Piquê tão encantadora, a imagem de Afrodite começa a ficar esquecida, as adorações à deusa da beleza ficam mais espaçadas e isso a incomoda profundamente.

Afrodite então, elabora uma forma de tirar Psiquê de sua vida e cria uma situação para que o pai de Psiquê consulte o oráculo com a intenção de saber do futuro de sua mais bela filha. O oráculo, manipulado por Afrodite, prevê que Psiquê deveria ser amarrada no alto de uma montanha pois seria devorada por um monstro.

O pai de Psiquê, angustiado com a notícia, não consegue compartilhar a real história com sua família. Ele conta que Psiquê irá se casar: precisa estar vestida de noiva, com toda pompa, porém, amarrada no alto da montanha. E assim, cheia de dúvidas, Psiquê vai para seu lugar com todo ornamento de uma belíssima noiva.

Enquanto isso, Afrodite convence seu filho Eros – Cupido – a matar sua rival em beleza. Para esse assassinato, Eros deveria usar sua flecha, que enlouquece as pessoas com a paixão (em grego pathos: paixão, passividade, sofrimento, doença...).

No entanto, ao chegar ao local indicado, Eros  encanta-se por Psiquê. E ela, acreditando que seria o dia de seu casamento, entrega-se para o ‘monstro’ (que de monstro não tinha nada!).

Essa passagem retrata a carta Dois de Copas no baralho de tarô. É o momento do encontro inesperado, da alegria de alguma coisa que ainda não é muito concreta mas é totalmente sentida emocionalmente por todas as partes do nosso corpo. Um sorriso ingênuo que nos acolhe, o calor reconfortante de um abraço gostoso e inusitado, um gesto sem intenção que nos contamina de alegria. É a celebração de um encontro, que não temos ideia de onde vai parar, mas sem dúvida, é muito feliz. É sentir a confiança e o acolhimento, é dividir emoções e pensamentos, é compartilhar o amor e a amizade e sentir a reciprocidade de onde menos esperamos.

Aqui não temos medo, o desconhecido fica minúsculo. O prazer do encontro é tão grande que todo o resto fica tão pequeno... só é possível sorrir e nos render a felicidade. Que sentimento bom! Vamos nos permitir sentir isso mais vezes! Um brinde a alegria das pequenas coisas que nos pegam de surpresa!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pajem de Copas

Narciso - Redouté Flowers and Fruits
Dois personagens que se encontram na mesma história: Eco e Narciso. Cada um com suas diferenças e particularidades vão viver aqui um encontro. Mas antes dessa história começar, só peço para que você tente se colocar no lugar dos dois, olhe pelos olhos de cada um deles: visões diferentes de mundo.

Narciso, um rapaz belíssimo, tão lindo que sua mãe com medo dele receber um castigo divino - afinal, ser belo era uma afronta aos deuses –  o privou de ver sua própria imagem. A beleza de Narciso despertava a atenção de crianças, homens e mulheres e com o passar dos anos, o assédio que sempre foi muito grande começou a ficar insuportável. Narciso então, se sentia mais à vontade nos bosques, em contato com a natureza e os animais.

Um dia, Narciso voltava de uma caçada quando Eco o viu: paixão imediata! Ele é lindo!

Eco era uma ninfa muito tagarela. Viveu por um tempo no Olimpo antes de ir para os Bosques. No Olimpo, para ajudar Zeus em uma de suas aventuras extraconjugais, ela ocupou Hera com suas histórias. Quando Hera descobriu, furiosa, castigou Eco a nunca mais elaborar uma frase. Eco só conseguiria repetir os últimos sons que lhe falassem. Assim, deixando de ser compreendida, fugiu para os bosques onde viu Narciso e por ele se apaixonou.

O encontro Narciso-Eco:
Narciso: Quem é você?
Eco: Você...
Narciso: O que você quer?
Eco: Quer...

Olha só como isso está perto da gente, imagine um relacionamento:

Eu vou jogar video-game.
Video-game...

Ou ainda:
Eu vou trabalhar no final de semana.
Final de semana...
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Quero ir à festa sozinho(a).
Sozinho...
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Preciso de um tempo.
Tempo...
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Zero negociação nesses discursos!

Na minha reflexão, façamos um esforço para nos colocar no lugar dos dois: um que só pede e outro que só repete. Quem é você? Ou quem você já foi?

Mas aqui, na carta Pajem de Copas no baralho de tarô, estamos falando de Narciso, jovem encantador que, mesmo muito novo, sabe o que quer. O relacionamento com Eco não dá certo, mas Narciso mostra a possibilidade de amar de novo, de se perder de paixão, e isso tudo começa com o amor que sentimos por nós mesmos: o amor próprio. Sua beleza é apaixonante, Eco se encanta por ele e ele mesmo se encanta por seu reflexo, mostrando que é possível sentir coisas.

Parece que depois de um tempo distante de relações, começamos a nos enxergar e a querer fazer as nossas próprias afirmativas. É só nos atentar para não permitir que sejamos ‘Eco’, devemos querer coisas e confiar em quem somos, assim como Narciso confia nele. O relacionamento Narciso-Eco não tem troca, ele nos abre possibilidades de amor, novas possibilidades emocionais, mas para ter sucesso devemos dar um passo além, Narciso precisa reconhecer o outro e Eco precisa aprender a ser alguém na relação. É a troca.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cinco de Copas

http://postercabaret.com/bangbyblancagomez.aspx
O mito de Eros e Psiquê é um lindo romance, cheio de amor, paixão, inseguranças e provações. Várias partes desta história me interessam, mas aqui vou falar de uma em especial.

Logo que eles se apaixonam e ficam deslumbrados um com o outro, Eros impõe como condição de sucesso do amor que Psiquê jamais olhe para ele. Ela aceita a condição, afinal de contas ele é o amor da vida dela! Mas em uma certa altura do relacionamento, cheia de dúvidas e inseguranças sobre esse pedido, Psiquê ilumina a face de Eros enquanto ele dormia para vê-lo de perto. Ele acorda, a acusa de traição e vai embora. A história continua, mas é aqui que começam meus pensamentos.

Que pedido mais ambíguo esse, hein?
"Se você me ama, por favor, jamais veja quem eu realmente sou!" Eros não estaria pedindo para Psiquê trai-lo? E Psiquê não estaria concordando que um dia essa traição aconteceria?

Quantas vezes não concordamos com traições que deveriam ser evitadas? Quando deixamos de lado coisas que valorizamos, é um tipo de traição contra nós mesmos. A gente nem percebe, mas nossa essência se machuca. E acontece em todo tipo de relacionamento, mas principalmente naqueles que estamos mais envolvidos emocionalmente.

A carta Cinco de Copas do baralho de tarô é o exato momento em que Eros acusa Psiquê de traição e lá fica ela se culpando por tal feito. Fica remoendo coisas e pensando como pode ser capaz de fazer uma coisa dessas. É o remorso por ter feito algo, a culpa. Mas seria ela culpada?

Na vida real, nem sempre Eros pede claramente para a gente abrir mão de alguma coisa. Na vida real a gente se trai de graça, sem um pedido oficial. A gente se convence que nem tudo é perfeito e acabamos concordando com atitudes e ações que ferem nossa essência. Depois, muito depois, traídos por nós mesmos não nos reconhecemos. Sentimos remorso e culpa e temos de tentar juntar os pedacinhos que sobraram da gente para tentar entender quem somos de verdade.
Ficamos machucados porque esquecemos por um instante quem nós somos e o que realmente é importante para nós. O remorso que Psiquê sente é meio misturado: um pouco por ter feito algo que não devia, um pouco por ter deixado de lado quem ela realmente é.

Open your eyes - diz no Vanilla Sky.
Saiba quem você é e o que você precisa para ser feliz. Aprenda a lidar com os remorsos e culpas de sua própria traição, mas saiba também limitar os espaços e fazer seus pedidos.
Aprenda a trocar, a crescer, sem se perder, sem se trair.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Morte

Pomegranate tree - www.rissmoon.com
De repente, A Morte aparece vinda de algum lugar e sentimos a surpresa da perda de alguém, de alguma coisa, de um ideal, da gente mesmo...

Dói muito chegar aqui. Não conseguimos inspirar, parece que vem um caminhão de lixo e tenta entrar pelas nossas minúsculas narinas. O pulmão sente um ar carregado e dentro da mente fica martelando a idéia do "e se não fosse assim?" Não dormimos: insônia. Não comemos. Só pensamos no "e se..." Vontade de chorar, gritar, bater. Imaginamos cenas indo até o vaso e vomitando coisas de várias cores e formatos. Sentimos o estômago, o intestino solta, tremedeira, sede, confusão... Queremos contar tudo só pelas lágrimas. É muito pesado! Dá vontade de desenhar, de escrever, de ouvir música. Talvez seja o momento em que mais sentimos o presente, e se nesse momento pegarmos um papel, sai um monte de coisa lá de dentro, um parto normal cheio de dores, odores, líquidos, sangue, placenta.

Outra opção é sentirmos exatamente tudo isso mas dormindo. Um sono absurdamente pesado que não nos tira da cama por horas seguidas, às vezes dias. Como um imã, que nos atrai e qualquer mínimo movimento é difícil porque a cama nos puxa de volta.

Aí começamos a melhorar e vamos sentindo apenas a inércia, parece que alguma coisa puxa. Puxa o levantar da cama, o sorriso. Mas ainda não dá prazer. A Morte é difícil, dolorida e sentimos cada segundo dela, dentro e fora do nosso corpo. O momento de lucidez que nos conforta é pensar "pelo menos acabou", mas isso passa tão rápido que nem nos damos conta. E voltamos a sentir tudo aquilo de novo.

Tem situações que aparecem apenas para nos trazer algum aprendizado. É como uma pessoa que um dia na vida você encontrou e ela sem querer te indicou um curso ou apresentou um amigo que mudou sua vida e você nunca mais a viu. A Morte é assim, uma passagem que por algum motivo apareceu, motivo que pode ficar muito pequeno. É o obstetra do parto: mulheres precisam de um para auxiliá-las, mas não é ele quem vai cuidar do bebê. O parto natural é dificílimo, será integralmente sentido pela mãe, com todas as dores e prazeres.

A Morte é o parto natural. É sentir a presença física e emocional da dor e do amor. E a gente é o obstetra dessa passagem. O bebê virá saudável se o obstetra souber lidar com tudo aquilo que ficará exposto.

É difícil enxergar, mas A Morte tanto na nossa vida quanto no baralho de tarô nos traz um difícil recomeço. Uma nova oportunidade de ver o mundo em outra perspectiva. Apesar da dor, sabemos que o tempo passa e a cicatriz se forma.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Julgamento

Mercurio  - Ercolano Scavi - Italia
Ouvi uma frase outro dia que dizia assim: a maturidade é quando estamos prontos para lidar com as perdas causadas pelas nossas escolhas. Isso mesmo: lidar com as perdas. Porque ganhar coisas, na maioria das vezes, é bom e também mais fácil de lidar. Agora, perder coisas... nem sempre estamos prontos.

E funciona assim: temos de fazer escolhas, sempre. Até quando não escolhemos, na verdade estamos escolhendo. É a pílula azul ou vermelha do Matrix: você tem a opção de escolher uma ou outra. Mas a partir do momento em que escolhemos uma delas, temos de bancar todos os ganhos que teremos com essa escolha e automaticamente todas as coisas que deixaremos de lado ao não escolher a outra opção.

Temos de elaborar um novo modelo, um novo contrato. Aprender a estar numa situação nova que além de regalias nos priva de algumas coisas. E é preciso entender que podemos sempre escolher e podemos sempre avaliar aquilo que vamos perder.

A carta O Julgamento no baralho de tarô fala exatamente deste preparo que temos internamente para deixar coisas para trás e negociar novas conquistas. No tarô mitológico é Hermes (Mercúrio), deus de tantas facetas.  Só para contar um pouquinho sobre ele, podemos reconhecê-lo pelo bastão que ele carrega com duas serpentes (caduceu) e por seus pés alados. Como característica, Hermes consegue ver as opções; mesmo sem querer ele tem esse preparo para ver o todo, e assim, poder escolher.

Escolhas que muitas vezes não percebemos serem viáveis. Exemplo: quando estamos enlouquecidos na vida profissional estressante, cheia de abusos que vão dos colegas aos clientes e chefes. Vivenciando relações estranhas no ambiente de trabalho, onde a gente só tem a opção de fazer o que foi pedido e ficar até tarde, perder o happy hour, o beijo na boca, a academia, a aula da pós... Nos resta dormir mal, acordar mal humorado, comer muito ou comer pouco, beber café, café, café, não ter tempo para fazer o projeto do jeito que deveria ser feito, frustrações...

O mesmo vale para a vida pessoal: uma viagem que não sai do papel, um relacionamento que não caminha, uma proposta de emprego que não aparece, uma companhia agradável que é pouco aproveitada, um livro que não lemos... e assim vai.

É isso? Lidamos com frustrações? E aí, reclamamos dos insucessos? Não. Podemos negociar. Mas negociar significa fazer escolhas e significa lidar com perdas. Isso que é tão difícil. Enxergar as escolhas e combinar com aquilo que não sabemos. Ao mesmo tempo em que encanta viver um ‘contrato’ novo ou tomar uma pílula nova, apavora a idéia de mudar.

O problema é que, na maioria dos casos, somos todos egoístas em algum ponto.  Uma amiga acrescentou: egoístas e prepotentes, porque acreditamos que a escolha que fizemos é a opção correta e ponto. E queremos que a escolha feita só nos traga ganhos, sem ter de pensar ou falar sobre as perdas com ninguém, nem com a gente mesmo, afinal, a escolha é nossa.

Doce ilusão, não é?  Sempre vamos deixar alguma coisa de lado. E para ser menos dolorido precisamos nos reinventar, resolver, lidar. Evitar as frustrações. Mais tarde, ou às vezes nunca nos damos conta das coisas que poderíamos ter negociado. Nos fechamos, sem querer, para as opções, apenas pelo fato de ter que lidar com as perdas.

Hermes que aparece aqui não é melancólico nem inseguro. Na carta O Julgamento, ele sabe que tomar uma decisão específica vai determinar uma série de outras relações que virão. E ele está pronto para bancar tudo isso. Ele consegue ver o todo, está pronto para deixar coisas de lado, expressar claramente o que quer e escolher. Ele não vai se desesperar. Sim, é a maturidade. E a maturidade é quando estamos prontos para lidar com as perdas causadas pelas nossas escolhas. E estamos prontos?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ás de Espadas


Restaurante em Toledo - Espanha

Acabei de ler um livro muito legal chamado O dia do Curinga de Jostein Gaarder, o mesmo autor do Mundo de Sofia. Acho até que demorei para ler esse livro, mas as coisas acontecem no momento certo, sempre soube disso.


A história é repleta de fantasia, é uma viagem de pai e filho pela Europa (da Noruega até a Grécia) em busca da mulher / mãe que os abandonou com a intenção de 'se encontrar'. Mas o bacana do livro é a estrutura dele, dos diálogos e reflexões até a organização dos capítulos.

O livro é contado pelo filho, um garoto que vê o pai como um filósofo colecionador de curingas de baralho. Fazendo uma alusão à tudo isso, os capítulos são divididos conforme as cartas do baralho e, o primeiro capítulo é o Ás de Espadas.

A carta Ás de Espadas no tarô representa o começo de alguma coisa que ainda está muito imatura, está começando a nos incomodar e está nascendo lá na nossa cabeça, no nosso mundo das idéias. Normalmente ainda não está muito claro o que é, mas certamente é algo que nos deixa ansiosos, em dúvida, inquietos.

No tarô mitológico (Juliet Sharman-Burke e Liz Greene) quem representa essa carta é a Atena (ou Minerva), deusa da Justiça. Podemos reconhecer a Atena pois quase sempre ela vem representada com uma espada em uma de suas mãos e uma balança na outra, isso porque ela traz o equilíbrio e a justiça com algum esforço. A Atena foi escolhida para ilustrar essa carta pois sua espada tem dois gumes, assim como a mente humana.

O que realmente me fascina nas cartas de espadas e, principalmente nessa carta inicial, é o poder que nós temos dentro dessa nossa caixola e que muitas vezes nós ignoramos ou nem sabemos disso. Puxa vida! Se somos capazes de criar úlceras de estress, porque não somos capazes de curá-las? Ou evitá-las pelo menos?

Dentro da gente conseguimos criar uma novela inteira, cheia de personagens e tramas. Conseguimos fazer a viagem mais maravilhosa ou a pior de todas. Temos o poder do corpo aqui dentro, mas o desconhecido ao nosso redor nos assusta tanto que nos tira essa concentração. Talvez seja um dos motivos de ser tão difícil praticar a meditação.

Não é fácil passar pelo Ás de Espadas, ele aparece na nossa vida e muitas vezes demoramos muito para entender o que é. Essa dúvida constante que fica na nossa cabeça e a angústia de saber a resposta da dúvida é característica base dessa situação. Mas, o resultado é bom, é um grande aprendizado que ninguém tira da gente.

Tenho vários amigos na faixa dos 30 anos que estão passando por alguma angústia, dúvida. Uma sensação de não saber o que fazer, de não ter ação porque simplesmente não sabe como agir, mas sabe que do jeito que está não está bom. Astrólogos podem associar este momento ao trânsito de Saturno, um planeta que normalmente aparece em nosso mapa aproximadamente de 7 em 7 anos e ele anuncia grandes mudanças. Mas viver essas grandes mudanças é difícil, principalmente porque a gente não entende qual é a grande mudança e nem qual será o resultado. A gente enxerga a casa de pernas para o ar, a gente se vê no olho do furacão, mas não vemos a famosa luz no fim do túnel.

Pressões de trabalho, relacionamentos, situações nos exigindo responsabilidade... Vamos fazendo, vamos fazendo... Mas qual o sentido? Onde estamos indo? É isso mesmo que EU quero da minha vida?

E tudo é tão doloroso porque esperamos alguma coisa que não sabemos o que é, é uma expectativa de dúvidas, como num luto. E penso que ao passar da juventude para a fase adulta, somos surpreendidos por alguns lutos: o luto da liberdade, o luto da ingenuidade, o luto da responsabilidade. E não seriam esses lutos os nossos “Ases de Espadas”?

O livro O dia do Curinga começa com o capítulo Ás de Espadas e eu começo meu blog com o mesmo capítulo. Seja bem vindo Ás de Espadas, nos traga essas dúvidas. A resposta, já sabemos, está dentro da gente.