quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cinco de Copas

http://postercabaret.com/bangbyblancagomez.aspx
O mito de Eros e Psiquê é um lindo romance, cheio de amor, paixão, inseguranças e provações. Várias partes desta história me interessam, mas aqui vou falar de uma em especial.

Logo que eles se apaixonam e ficam deslumbrados um com o outro, Eros impõe como condição de sucesso do amor que Psiquê jamais olhe para ele. Ela aceita a condição, afinal de contas ele é o amor da vida dela! Mas em uma certa altura do relacionamento, cheia de dúvidas e inseguranças sobre esse pedido, Psiquê ilumina a face de Eros enquanto ele dormia para vê-lo de perto. Ele acorda, a acusa de traição e vai embora. A história continua, mas é aqui que começam meus pensamentos.

Que pedido mais ambíguo esse, hein?
"Se você me ama, por favor, jamais veja quem eu realmente sou!" Eros não estaria pedindo para Psiquê trai-lo? E Psiquê não estaria concordando que um dia essa traição aconteceria?

Quantas vezes não concordamos com traições que deveriam ser evitadas? Quando deixamos de lado coisas que valorizamos, é um tipo de traição contra nós mesmos. A gente nem percebe, mas nossa essência se machuca. E acontece em todo tipo de relacionamento, mas principalmente naqueles que estamos mais envolvidos emocionalmente.

A carta Cinco de Copas do baralho de tarô é o exato momento em que Eros acusa Psiquê de traição e lá fica ela se culpando por tal feito. Fica remoendo coisas e pensando como pode ser capaz de fazer uma coisa dessas. É o remorso por ter feito algo, a culpa. Mas seria ela culpada?

Na vida real, nem sempre Eros pede claramente para a gente abrir mão de alguma coisa. Na vida real a gente se trai de graça, sem um pedido oficial. A gente se convence que nem tudo é perfeito e acabamos concordando com atitudes e ações que ferem nossa essência. Depois, muito depois, traídos por nós mesmos não nos reconhecemos. Sentimos remorso e culpa e temos de tentar juntar os pedacinhos que sobraram da gente para tentar entender quem somos de verdade.
Ficamos machucados porque esquecemos por um instante quem nós somos e o que realmente é importante para nós. O remorso que Psiquê sente é meio misturado: um pouco por ter feito algo que não devia, um pouco por ter deixado de lado quem ela realmente é.

Open your eyes - diz no Vanilla Sky.
Saiba quem você é e o que você precisa para ser feliz. Aprenda a lidar com os remorsos e culpas de sua própria traição, mas saiba também limitar os espaços e fazer seus pedidos.
Aprenda a trocar, a crescer, sem se perder, sem se trair.

11 comentários:

  1. Achei que esse foi o seu melhor post até agora... Parabéns! Bjo!

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  2. Adoro esse mito =)
    parabéns pelo Texto Silvius!

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  3. A culpa não é de Psiquê, mas ela não sabe disso. A culpa não é de Eros, mas ele não sabe disso. Para as emoções não existe um culpado. Existem condições que nos levam a ela. O quê motivou Eros a impor tal condição à Psiquê?

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  4. E o pior é que fazemos isto a todo momento. A renuncia à nós mesmos. Auto Boicote de nossa essência... so sad!

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  5. Oi! Maravilhoso o texto. Esse tipo de atitude é uma loucura, as pessoas se conhecem, se apaixonam e quando resolvem ficar juntas se ocupam de mudar a outra e não de se curtirem. E o pior é que depois que conseguem mudar o parceiro, se separam e afirmam que não foi por essa pessoa que se apaixonaram. Bicho estranho!
    J'Ane Senra

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  6. Adorei Sil!! Post lido na hora certa. Parabens! Bj Fla

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  7. Tenho que concordar com sua amiguinha acima, esse foi o texto mais bonito para mim, até agora
    beijão
    titia coruja
    claudia

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  8. Muito bom!
    Beijo
    Emerson

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  9. Gostei muito.
    beijos
    Rosangela

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