terça-feira, 5 de julho de 2011

Quatro de Espadas

A persistência da memória, 1931 - Salvador Dalí
Exílio.
Acredito que a minha geração não sabe muito bem o que é isso. O que é você ter de sair do seu ambiente familiar e ficar em um espaço ‘neutro’, esperando? Esperando o tempo passar, esperando as idéias e ideais se transformarem. Enfim, apenas esperando. Pensando em suas ações e tomando fôlego para um novo momento. Imaginando como será a volta, que não tem data certa e também não saber se ela vai realmente acontecer.

No mundo prático não vivemos isso, não sabemos o que foi ou o que é isso. Mas no campo emocional, não tenho dúvidas de que a minha geração sabe bem como é ser obrigado, por um movimento interno ou não, a sair de cena.

Sair do mundo, sair da rotina e experimentar a reflexão. Testar o sono da fuga, testar o imã da cama, a preguiça de caminhar. É uma forma de exílio, um exílio altamente criativo que nos coloca, sem querer, para avaliar nossa vida. É um processo natural, buscamos esse espaço silencioso e tranqüilo depois da turbulência.

Isso aconteceu com Orestes, nosso herói mitológico que precisou do tempo sereno e tranqüilo para pensar em como deveria agir sobre a traição do pai e o assassinato dele pela mãe. História trágica, pesada, mito greco-romano representado pela carta Quatro de Espadas no baralho de Tarô Mitológico. E temos o que aprender com Orestes. Como reagir? Assim, o exílio se faz necessário.

O caos da vida nos faz emendar uma ação na outra e às vezes não percebemos como esse momento de pausa é fundamental, até que somos obrigados a viver isso: o corpo pára e a nossa resistência abaixa e temos uma amigdalite que não nos deixa falar, uma virose que nos segura em casa, uma pedra no rim que nos amedronta tamanha dor; ou o inevitável acontece, a corda se rompe e o fim chega. Aí, precisamos parar para pensar, não tem jeito. Precisamos respirar um ar limpo e puro, sem inalar nenhuma dor. Precisamos segurar o grito da descida da montanha russa e entender se queremos descer mesmo ou não.

O inevitável já aconteceu. A dor e o desespero para acabar com ela já passaram. Agora é decidir se emendamos logo outra atividade em nossas vidas ou se paramos para refletir. Raramente enxergamos a possibilidade do crescimento nesse momento de exílio, mas Orestes enxergou isso. E ele não sente ansiedade ou pressão em seus pensamentos. Ele sente que é um momento de reflexão, de recuperar energias para o próximo passo. É um momento solitário, sem tarefas, sem perder tempo com atividades que não irão trazer benefícios. É hora de descansar e se refazer. E essa paz inspira idéias e novos movimentos. Aproveite!

Um dia de cada vez.
Tudo tem seu tempo.
Entenda e pratique isso em seu exílio e boa sorte. Mais uma vez, só você tem a ganhar com esse momento.

COTA ZERO
Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?
Carlos Drummond de Andrade – Sentimento do Mundo

4 comentários:

  1. Muito legal !!! Vc atendeu meu pedido, escreveu pra mim. Pensando mais em meu exílio atual ...Obrigada. Bjs

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  2. A possibilidade do exilio nos apavora. Passamos a vida tentando desesperadamente evitar esse momento, que na verdade é o que nos fortalece.
    Salve, salve, amiga querida. J'Ane Senra

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  3. Sei bem o que significa o exílio. Mas não tenho certeza de saber lidar com ele. O que é certo é que é necessário. Parabéns mais uma vez pelos textos inspirados e sincronizados com o sentimento geral. Beijos. Clau

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  4. Adoro seu blog, beijos, saudades
    Thais

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