terça-feira, 24 de maio de 2011

Os Enamorados

Illustration by Carl Jung in "The Red Book"
Você já se sentiu em uma encruzilhada?
Em um momento de uma escolha muito difícil?
A vida adulta acaba nos proporcionando estas experiências, ter de escolher entre alguns caminhos. Conforme a gente vai amadurecendo a decisão fica mais rápida, mais óbvia. Mas mesmo assim, ainda vivemos situações em que a escolha é muito difícil.

Normalmente porque as opções que temos nos trazem diversas dúvidas, nos deixam muito inseguros. Como é difícil não saber o que vai acontecer! E se eu me arrepender dessa escolha mais pra frente? Infelizmente não temos como saber... E assim ficamos parados, no meio da encruzilhada, analisando e re-analisando prós e contras de cada movimento.

“Em trabalhos práticos de física, qualquer aluno pode fazer experimentos para verificar a exatidão de uma hipótese científica. Mas o homem, por ter apenas uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese por meio de experimentos, por isso não saberá nunca se errou ou se acertou ao obedecer ao seu sentimento.” (A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera)

E para mim, o mais difícil é isso: obedecer nosso sentimento. Porque quando temos opções e ficamos realmente na dúvida, todas as nossas escolhas envolvem nossos sentimentos: qual caminho me fará mais feliz? No fundo é isso que pensamos.

A carta Os Enamorados, no baralho do tarô mitológico, conta a história do Julgamento de Páris e retrata uma escolha extremamente complicada que esse jovem príncipe teve de fazer. Tudo começou com uma maçã banhada a ouro que apareceu em uma festa de casamento no Olimpo. Era a celebração da união entre Peleu e Tétis em que Éris, deusa da discórdia, furiosa por não ter sido convidada, lançou para Zeus a jóia gravada com os seguintes dizeres: “para a deusa mais bela”. Imediatamente, Hera (deusa da família e da união), Atena (deusa da justiça) e Afrodite (deusa da beleza e do amor), se prontificaram em receber o presente. Zeus entendeu, então, o quão delicado seria escolher a deusa mais bela: ao escolher uma, estaria ‘abandonando’ as outras duas.

Estrategicamente, Zeus convocou Hermes, mensageiro dos deuses, para ir até o mundo mortal e delegar essa tarefa para alguém. As 3 deusas o acompanharam e Hermes encontrou com Páris, príncipe de Tróia, que foi o escolhido para eleger a dona do pomo dourado. As deusas se apresentaram, cada uma oferecendo uma recompensa pela sua escolha: Hera lhe concederia a paz e a união dos povos em seu reinado, Atena lhe daria o pensamento estratégico em guerras e conflitos e Afrodite ofereceria-lhe o amor da mais bela jovem, da moça que ele quisesse.

Que dúvida! Que grande dúvida!
Estava claro para Páris a grande responsabilidade que seria escolher uma das 3. Mas era sua tarefa, ele deveria fazer essa escolha. E não é uma escolha prática, não estamos falando qual das 3 vai oferecer mais súditos, mais riquezas... não! A escolha é subjetiva, é o coração quem manda: qual das 3 é a mais bela?

Essa história tem um grande desdobramento e lá na frente vai ser responsável pela guerra de Tróia. Aqui, vamos nos concentrar nessa primeira parte do mito que é conhecido como O Julgamento de Páris. Páris escolheu Afrodite como a deusa merecedora do pomo de ouro, não era por menos, ela é a deusa da beleza. Por mais difícil e comprometedora que fosse essa escolha (Páris comprou uma briga feia com Hera e Atena), foi isso que seu coração, sua intuição pediu para ser feito e era exatamente esse caminho que seria seguido, de um jeito ou de outro.

Essa escolha representa o momento em que nos diferenciamos como indivíduo, o momento em que nos tornamos únicos e nos responsabilizamos pelas nossas escolhas. Aqui, Páris ouve seu coração e se mostra adulto, maduro e as conseqüências são apenas dele. Sentiu a responsabilidade dessa etapa?

A carta Os Enamorados nos traz um momento de extrema felicidade, alegria, amor e muita realização, pois é uma escolha que fazemos com o coração. Mas essa carta também traz consigo a grande responsabilidade dessa escolha, o alto preço que pagamos (internamente) pelo nosso amadurecimento e pela nossa conquista em bancar isso tudo sozinhos.

Muitas dúvidas e inseguranças ainda estão por vir, já sabemos disso no minuto da escolha. Mas o aprendizado que ganhamos nesse processo é só nosso e o conforto emocional que temos também. Ninguém pode tirar isso de nós e ninguém pode nos ensinar isso. A satisfação desse aprendizado é enorme, única e só vamos saber disso se seguirmos nosso coração e bancarmos nossa escolha.

5 comentários:

  1. Zeus é um gradessíssimo 'filo' da puta nesta história! Ele deveria fazer a escolha, e não passar para seus "subordinados". É comum acontecer em uma empresa, quando o chefe tem que tomar uma decisão difícil, como despedir um funcionário, e acaba delegando isso para um de seus subordinados para não arcar com as consequências. Assim dá pra descobrir se o chefe é mesmo líder (maduro) o suficiente para cuidar da equipe mesmo nas decisões difíceis.

    Abrass!

    ResponderExcluir
  2. sil, esse texto sobre essa carta não poderia ter vindo em melhor hora... adorei! bjo!

    ResponderExcluir
  3. Oi Sil, muito legal esse texto...Parabéns não só por esse texto , mas pelos outros já escritos..
    E uma coisa interessante é essa questão da liberdade de escolha, nós lutamos tanto por uma liberdade e quando temos ela acabamos não sabendo o que fazer, preferindo ter apenas uma alternativa,não passando por esse luto da escolha...
    beijos

    ResponderExcluir
  4. Renata,

    "Na vida há dois tipos de tragédia: uma quando não conseguimos o que queremos e outra quando conseguimos o que queremos." -Oscar Wild

    "A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." -Charles Chaplin

    ResponderExcluir
  5. É preciso nos atentarmos ao tempo despendido nessa tal encruzilhada, tem que ser um tempo “suficientemente bom”, que te traga amadurecimento e não desgaste emocional, quando abusamos desse tempo, saímos desgastados. E no fundo, bem lá no fundo, a melhor decisão é a que tomamos, essa temos a responsabilidade de fazer dar certo, qualquer outra possibilidade deixa de existir quando nos decidimos.
    O que seria na história se Paris não tivesse roubado a esposa de Menelau? Melhor Helena de Esparta ou Helena de Tróia? Nunca saberemos!!!!J'Ane Senra

    ResponderExcluir